quinta-feira, 14 de julho de 2011

Para varrer o perigo do tapete







Avaliamos o risco de interferência dos tapetes nos pedais de 21 carros.
Por Isadora Carvalho/revista Quatro Rodas.

Até pouco tempo atrás, tapete de carro não era assunto. Ninguém poderia imaginar que o revestimento se tornaria o centro de uma polêmica envolvendo segurança e grandes somas investidas em recall e desenvolvimento – só no Brasil, 107.000 unidades de Toyota Corolla, fabricadas a partir de 2008, foram convocadas. Também nos Estados Unidos, o aparentemente inocente tapete vem sendo apontado como a principal causa de alguns acidentes graves, devido à interferência no pedal do acelerador, provocando a aceleração involuntária.

Não são poucos os motoristas que sentiram o tapete fugir de seus pés. Quem é que nunca se viu tentando ajeitar com o calcanhar o tapete dançante que insiste em se intrometer sob os pedais? “Quando tive meu primeiro carro, um Ford Ka, estava saindo da garagem de casa e percebi que não conseguia acelerar até o fim, pois o tapete estava enrolado debaixo do pedal do acelerador. A situação me assustou, pois em baixa velocidade não há grandes consequências, mas numa condição de estrada pode provocar um sério acidente”, afirma o designer Rodrigo Ciossani, de 28 anos, que também passou por experiência semelhante, pouco tempo depois, com o Celta Spirit de sua irmã. “A borda do tapete prendia o pedal da embreagem, o que tirava a minha atenção, pois atrapalhava consideravelmente a dirigibilidade.”

Para aferir quais são os modelos cujos tapetes (entre originais e independentes) estão mais sujeitos a interferir no acionamento dos pedais, QUATRO RODAS encomendou ao Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi) um teste inédito envolvendo seis dos maiores fabricantes e os 21 modelos mais vendidos do país. O estudo mobilizou cinco profissionais ao longo de 16 dias, entre elaboração de critérios, testes e desenvolvimento do relatório final.

“Toda vez que utilizo o pedal da embreagem, meu pé enrosca no tapete, que não se encaixa exatamente no formato do assoalho, deslocando-se com facilidade”, diz a diagramadora Ana Cristina Paula Lima, 42, proprietária de um Classic 2010, um dos seis veículos avaliados que apresentaram alto risco de interferência dos tapetes em relação aos pedais. O depoimento de Ana Cristina bate com nossa avaliação. De acordo com o relatório do Cesvi, o tapete do Classic não se ajusta ao assoalho e por isso está mais suscetível a movimentação involuntária, dificultando a movimentação do motorista e, consequentemente, a dirigibilidade.

Os outros cinco modelos cujos tapetes merecem atenção são: Hyundai i30, Peugeot 207 Passion, Renault Sandero, Fiat Idea e Toyota Corolla. O do Classic, o do 207 Passion e o do Idea apresentaram em comum a posição considerada altamente crítica em relação aos pedais, devido a sua extremidade terminar exatamente no fim do curso do acelerador, provocando a prisão temporária deste.

No caso do i30 e do Sandero, as peças possuem baixo coeficiente de atrito, característica que facilita a interferência nos pedais e no curso das alavancas por escorregar e se movimentar com facilidade. O produto utilizado no Renault ocupa área menor que o assoalho, aumentando a suscetibilidade a torções e deformações do item.

O Corolla foi o único em que o tapete travou o pedal do acelerador, sendo necessária a interferência do condutor para seu destravamento. Inadequado ao assoalho do automóvel, ocupando cerca de 88% de sua área total – a menor observada entre os 37 conjuntos tapetes/veículos avaliados –, torna-se propenso a movimentações em frenagens bruscas ou na entrada e saída do condutor. Mesmo com as presilhas fixadas corretamente, foi possível verificar o travamento dos pés na parte superior, problema que pode ser agravado dependendo do calçado do motorista.

Os melhores
Mas nem todos os tapetes ficaram por baixo. O tapete do Fiesta conquistou a primeira posição no ranking (veja tabela) pela dupla fixação (por velcro e presilha) existente no tapete original de fábrica, recurso não observado nos demais produtos analisados. Civic, Zafira e Gol Geração 5, o primeiro equipado com tapete original e os demais com marcas independentes, apresentaram bom desempenho ainda que não possuíssem a mesma forma de fixação do Fiesta, e, entre eles, apenas o item do Gol Geração 5 interferia na alavanca do curso dos pedais.

Entre os conjuntos avaliados, considerando tanto os originais como as seis marcas não originais, a Borcol foi a que apresentou menor interferência na dirigibilidade, com uma média de 6,4, considerando uma nota de 0 a 10. Em seguida vêm a Unicol e a Cabral, esta última especializada em peças universais que atendem diversos modelos e que obteve boa avaliação por possuir fixação por velcro. Na quarta colocação, com média de 4,6, ficaram os itens originais de fábrica, homologados pela montadora. “Uma surpresa para nós, pois são produtos desenvolvidos e testados especialmente para um modelo, levando em consideração a característica do assoalho e sua dimensão e que, por serem recomendados pela fábrica, deveriam apresentar o melhor nível de segurança comparado às outras marcas do mercado,” afirma o engenheiro Daniel Araujo Filipe, técnico do Cesvi.

“A montadora deve desenvolver um tapete que ofereça proteção ao assoalho e praticidade de limpeza ao condutor, além de não interferir na dirigibilidade do veículo”, diz Francisco Satkunas, conselheiro da SAE Brasil. “Caso ofereça algum risco de segurança ao condutor, a fábrica é responsável.” De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, todos os tapetes vendidos em concessionárias, tanto os originais quanto os independentes, são de total responsabilidade da montadora que representam.

A maioria dos veículos comercializados no país não possui tapetes originais de fábrica, ou seja, não existe nenhum produto genuíno para eles (recomendado pela fábrica). Nesse caso, o consumidor deve recorrer a marcas independentes, as quais desenvolvem produtos baseados nas dimensões específicas desses modelos. Podem ser encontradas tanto em concessionárias quanto em lojas de acessórios automotivos.

Pelas análises realizadas, foi possível constatar que 20% dos produtos testados possuem alto risco de interferir na dirigibilidade. Esse fato demonstra que cada usuário deve ter todo cuidado no momento da escolha desse item para seu veículo (veja o quadro abaixo).

ORIGINAIS E GENÉRICOS

Os tapetes automotivos podem ser encontrados em diversas formas e características, podendo ser comercializados pelas próprias montadoras ou por empresas especializadas nesse tipo de acessório. Podemos classificar a procedência dos tapetes da seguinte maneira:

Tapetes originais de fábrica: são os tapetes fornecidos diretamente pelas montadoras. Comercializados como acessórios genuínos, foram desenvolvidos e testados pela própria fábrica.
Tapetes independentes: são aqueles fabricados especificamente para as características de cada veículo – no caso, os fabricantes são empresas especializadas em tapetes, podendo ou não possuir relação com a montadora. Podem ser adquiridos em concessionárias ou lojas de acessórios para veículos.
Tapetes universais: projetados para serem utilizados em uma grande variedade de veículos, independentemente de marca, tipo ou modelo.


PARA NÃO SE ENROLAR

• Verifique se a área do tapete é compatível com a do assoalho do veículo.
• Caso o veículo possua disponibilidade para algum tipo de presilha, adquira um tapete que ofereça essa fixação.
• Verifique se a área inferior do tapete possui dentes ou ranhuras, evitando que se movimente.
• Confira se o tapete não altera o curso normal de algum dos pedais.
• Verifique se o pedal totalmente pressionado entra em contato com a extremidade do tapete. E também se o tapete que termina antes do pedal está bem fixado e posicionado.
• O tapete deve se acomodar ao assoalho de maneira a não formar ondas ou escorregar. Não pode ser nem pesado nem leve.
• Quando experimentar o tapete, entre e saia do veículo para verificar se ele não altera a sua posição original.
• Tapetes metálicos ou refletivos podem refletir luzes e incomodar o motorista. Vale optar por modelos foscos de borracha ou carpete.





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